Deixo cair o meu copo no tapete, está pegajoso da bebida que já há muito consumi.
Não me preocupa que me suje os sapatos, ainda há pouco tão brilhantes.
A porta abre-se e sinto o ar frio da noite, tantas caras, cheias de esperança, tantos sorrisos partilhados…
Procuro o meu carro, mas já não sei se conheço o caminho, nem sei se quero ir.
Prefiro ir a pé, mesmo que fique longe, não me importa.
O vento espalha-me o cabelo pela cara, deixo de ver o caminho, e os carros que passam por mim parecem borrões de luz.
Uma das alças do vestido descai do meu ombro, esta noite não sinto o frio, será que existe?
Com as costas da mão tiro o pouco batom que me resta nos lábios, sinto-os molhados e lembro-me de tantos beijos que já dei, tantos suspiros, tantas gargalhadas que soltei e promessas que fiz.
Quero ir para longe, não importa do destino.
Amanhece, já não sei quantos quilómetros andei, quantos comentários ouvi pelo caminho, mas hoje sinto-me a personagem principal, sei que nada me atinge.
Porque é que tudo tem que ter uma explicação?
Sei que cheguei porque o sol está a nascer, agora já não posso fugir, esconder-me como se fosse apenas mais uma criatura da noite.
Odeia-me por ser assim!
Que posso fazer? Eu sou assim, e gosto…